Infelizmente, milhões de mulheres (e muitos médicos) ainda são surpreendidos por alguns problemas pélvicos que podem, além de ocasionar dor, ser responsáveis também pela infertilidade.
De 5 a 10% das mulheres em idade reprodutiva tem a síndrome dos ovários policísticos
"A história da paciente com síndrome dos ovários policísticos [SOP] é muito característica: ciclos menstruais irregulares, aumento de pelos no rosto e no corpo, acne e ganho de peso", diz a ginecologista Angela Maggio da Fonseca, da Faculdade de Medicina da USP. O diagnóstico parece simples, não? E é! Mas, como cada um desses sintomas pode sinalizar diversos problemas, especialmente durante a adolescência, quando a síndrome dos ovários policísticos a doença hormonal mais comum em mulheres jovens costuma dar as caras, muitas não ficam sabendo o que têm nas primeiras consultas. E isso é preocupante porque a SOP especialmente se não for tratada aumenta o risco de infertilidade, diabetes tipo 2, síndrome metabólica, doenças cardíacas e câncer de endométrio.
Apesar de a causa principal ser desconhecida, ela acontece quando os ovários produzem uma quantidade alta (e fora do comum) de hormônios masculinos, como a testosterona, que interferem na ovulação e, em muitos casos, na sensibilidade do corpo à insulina. Os cistos se armazenam no ovário quando o folículo ovariano não chega ao ponto de expelir o óvulo. Como a SOP não tem cura, os médicos tratam seus sintomas. Os contraceptivos orais são os principais aliados da mulher. Eles ajudam a suprimir os hormônios masculinos e a normalizar os ciclos. "Muitas mulheres tomam o anticoncepcional por um bom tempo e, depois de estabilizar a síndrome, param. Se houver necessidade, recomeça-se novamente", diz Angela.
Controlar o peso com dieta e exercícios também é fundamental. "As pacientes observam que uma dieta moderada em carboidratos e rica em proteínas magras ajuda a controlar a fome", diz a nutricionista americana Hillary Wright, autora do livro The PCOS Diet Plan (inédito no Brasil). Além disso, perder entre 5 e 10% do peso contribui para normalizar o ciclo menstrual e baixar os níveis de testosterona. Um bom estímulo para manter todos esses fatores em ordem: além de poder controlar a síndrome, é possível pensar em engravidar normalmente.
10% das mulheres em idade reprodutiva sofrem com a endometriose
Não é raro ouvir histórias de mulheres que passaram anos penando com cólicas desde que menstruaram a primeira vez até ouvirem a palavra final do médico: endometriose. "Muitas mulheres suportam a cólica porque acham que é comum, mas saiba que isso não é normal. A mulher não nasceu para ter cólica", alerta o ginecologista Eduardo Schor, responsável pelo Setor de Dor Pélvica e Endometriose da Unifesp e secretário geral da Sociedade Brasileira de Endometriose.
Quando uma mulher tem a doença, o endométrio, tecido que reveste o útero e descama todo mês durante a menstruação, pode voltar pelas trompas e cair na pelve, em vez de se manter no lugar correto. Assim, no período menstrual, essas "células perdidas" também sangram, formando lesões e cistos na cavidade pélvica, no intestino e nos ovários, levando a ciclos superdoloridos. Mas essa não é a única possibilidade. "O fato de, em casos raros, o endométrio aparecer em outros lugares além da cavidade abdominal, como no pulmão e no cérebro, indica que pode haver outras explicações", diz a ginecologista Rosa Neme, diretora do Centro de Endometriose, em São Paulo. Por exemplo: o organismo ter mecanismos de defesa alterados, a existência de uma célula que se transforme em endométrio e também uma correlação genética. Atenção se uma mulher da sua família foi diagnosticada: um parente de primeiro grau aumenta sete vezes suas chances de ter o problema.
Outros sintomas da doença são dor profunda após a penetração, inchaço, constipação, diarreia, cansaço constante e sensação de queimação na hora de urinar. Mas vale lembrar que algumas mulheres não têm sintomas. E mesmo essas estão sujeitas à pior consequência, que é a infertilidade segundo o American College of Obstetricians and Gynecologists, até 38% das mulheres inférteis podem culpar a endometriose. O ideal é diagnosticar o problema o mais cedo possível. Porém, a endometriose não é descoberta em exames de rotina só aparece em ressonâncias e ultrassonografias em estágio avançado.
Por isso, você não pode deixar de contar ao seu médico tudo o que sente, por mais bobo que possa parecer. "Quando o profissional tem uma grande suspeita, a melhor medida é bloquear o ciclo menstrual", acredita Marco Aurélio Pinho de Oliveira, chefe do serviço de ginecologia e do ambulatório de endometriose do hospital universitário da UERJ. Assim, as células do endométrio espalhadas pela pélvis também param de sangrar. Em casos avançados, a solução é a laparoscopia, cirurgia que retira as lesões. Mas um estudo recente das universidades federais de São Paulo e do Maranhão mostrou que um fitoterápico à base de uma planta conhecida como unha-de-gato conseguiu reduzir em 60% as lesões causadas pela doenças em ratas. Resultado já relatado informalmente por um número grande de mulheres.
20% das mulheres entre 20 e 30 anos tem fibroma uterino
O principal sintoma do fibroma uterino (ou mioma, como também é conhecido), o forte inchaço durante o ciclo menstrual, pode dar a você uma barriguinha de grávida sem que você esteja. "Também ocorrem o crescimento uterino com cólicas intensas e o aumento de sangramento durante o ciclo menstrual, levando até a casos de anemia", afirma o ginecologista Nicolau D’Amico, do Hospital Samaritano de São Paulo. Além disso, pode haver pressão constante na bexiga e no reto. Mas, novamente, o curioso é que em algumas mulheres não há sintoma algum.
"Trata-se de uma doença benigna, que acomete o útero e se manifesta pela presença de nódulos musculares. Eles podem se localizar externamente ao útero, dentro da parede ou dentro da cavidade uterina", explica D’Amico. Os médicos não têm certeza sobre o que faz esses nódulos de tamanhos tão variados quanto o de uma uva ou de um melão crescer. Novas pesquisas sugerem que a exposição aos ftalatos, compostos químicos encontrados em plásticos e produtos de cuidados pessoais (maquiagens, xampus, loções etc.) pode ter participação. Como os fibromas se alimentam de estrógeno, eles podem se tornar um incômodo durante a gravidez, quando os níveis de hormônios femininos estão altos. Eles também dividem o espaço com o feto, aumentando o risco de aborto ou nascimento prematuro.
Enquanto os miomas são relativamente simples de diagnosticar normalmente por meio de um ultrassom ou de uma ressonância magnética, decidir sobre o tratamento não é tão fácil. Pílulas anticoncepcionais, hormonioterapia, DIU medicado, anti-inflamatórios e análogos de GnRH podem encolher os nódulos, mas a solução definitiva é cirúrgica não necessariamente a retirada do útero, um passo drástico para mulheres jovens. Já há tratamentos mais atuais e menos severos, como a retirada apenas do mioma (inclusive por laser) ou procedimentos que ajudam a eliminá-los, como a embolização uterina, que corta o fornecimento de sangue para o fibroma. Em fase inicial, também existem dois tratamentos não invasivos: ablação por radiofrequência, que usa a energia do calor para destruir qualquer crescimento sem razão, e ultrassom focalizado guiado por ressonância magnética, que explode os fibromas em pequenos fragmentos. Sim, sempre há luz no fim do túnel.
Fonte: Women's Health
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